quinta-feira, 21 de maio de 2020

Sou cristão e sou artista. O que devo fazer?



1 - A Arte numa visão cristã está conectada ao que Deus criou e planejou para a humanidade. 





Nos estudos sobre a influência da Reforma Protestante na arte que venho fazendo desde  2017 e,  mais recentemente com  a criação do projeto Êxodo 31, venho entrando em contato com o universo do artista cristão. Dessa aproximação surgiram diversas informações acerca do fazer artístico que considero importante compartilhar. E a melhor maneira que encontrei para começar esse texto foi simular uma reflexão e uma pergunta que certamente passam na cabeça do artista em algum momento de sua vida.

Imagine um jovem com evidente talento para artes visuais dentro de uma Igreja cristã e que está no meio do turbilhão de emoções para a escolha do melhor caminho a seguir. O que fazer? O que Deus acha sobre esse tema? O que produzir? Será possível viver da minha arte? E o mercado? O que tem relevância artística? Arte para Deus, ou para o homem?

Caso o leitor desse texto seja cristão, muito provavelmente ele creditará a Deus suas habilidades e talentos. Considerará ainda que precisa entender como surgiu aos olhos de Deus a arte. Além disso, partirá de uma visão protestante para suas premissas e ideias. E é neste sentido que pretendo seguir.

Gosto muito de imaginar que na criação do mundo, ao bradar “Que haja Luz!”, Deus tenha dado o primeiro passo para que arte existisse. É da luz e da sua relação com as coisas que surgem as cores. No decurso da criação, em sendo criadas as coisas, elas iam sendo coloridas pela luz criada por Deus. Ou seja, Deus se preocupou em colorir o céu de azul, a noite de preto, o sol de amarelo e a relva de verde. Ao homem Deus concedeu os olhos e alma com a capacidade de enxergar as cores e a capacidade de percebê-las na sua beleza e diversidade. Ao espírito cabe o ato de gerar o ambiente da revelação vinda de Deus para compreender os fatos que o cercam em sua plenitude.

E o que homem fez com tudo isso para que hoje estivéssemos aqui falando sobre a arte? Essa é uma aventura humana inserida em todas as outras que ele desenvolveu desde que Adão e Eva experimentaram da árvore do conhecimento do bem e do mal e persistirá até o final dos dias.   Já falamos da criação com suas cores, formas e texturas e podemos entender a narrativa do Apocalipse a partir dos seus detalhes impregnados de imagens, cores, símbolos e formas que, se transformadas numa obra de arte, seria algo extraordinário e que nunca foi alcançado em sua plenitude por nenhum artista. A palavra de Deus é rica e bela nos detalhes e é expressão do seu amor por nós e podemos a usar arte que ela nos oferece  da melhor forma para o ambiente de adoração que devemos ao Senhor. A questão que se coloca para nós é se temos aproveitado essa graça em favor do nosso crescimento espiritual e do Reino.
  

Nesse tempo que não conseguimos precisar o exato ano do seu início e tão pouco saber o seu fim, o homem vem fazendo arte. Perceba, antes de Adão, foi o próprio Deus quem pintou e esculpiu. Foi Ele quem deu som aos pássaros, aos leões, às ovelhas, ao homem, ao vento e ao mar. Só depois o homem tomou para si a possibilidade criativa e de reprodução de sons e cores. Daí, eu creio que a história da arte, numa perspectiva cristã, esteja inserida no contexto da trajetória do homem, do seu surgimento, do seu distanciamento de Deus e sua perspectiva de volta aos braços do Pai. É nessa perspectiva de uma visão protestante que pretendo abordar o problema que dá nome a esse artigo: Sou cristão e sou artista. O que devo fazer?


2 - Como pensar o desenvolvimento da arte na perspectiva da fé protestante?


Primeiramente, eu considero que essa perspectiva deva jogar sobre os ombros de cada cristão, artista ou não, todo o amor que Deus tem por nós. Sem essa premissa, todo o resto se perde e não gerará nenhum bom resultado para compreensão do papel do artista, do público que interage com essa arte e principalmente da relação desses com quem não professa a nossa fé. Gestos de alguém que voltou aos braços do pai e pretende seguir com ele até a eternidade deverão sempre partir dessa condição primeira. O amor que nos une a Deus deve ser o mesmo que nos leva a nos relacionar com o próximo e tem a marca da graça e da paz. Também assim deve ser na arte.

Uma segunda e importante questão é estabelecer os passos deixados pela arte nos ambientes em que ela ocorreu e tentar identificar quais dessas pegadas nos permitem contar a história da arte numa perspectiva protestante.

Os primeiros registros da arte primitiva, nas cavernas, nada mais eram do que registros da natureza. O homem pintando o que seus olhos viam. A razão humana passando a reproduzir as outras criaturas de Deus e a ele próprio – o homem. Historiadores da arte consideram que aqueles homens podem ter atribuído significado místico àquelas imagens, considerando-as capazes de dar-lhes força para a caça e enfrentamento às feras. Mais adiante, encontramos nas civilizações da antiguidade expressões de arte em adoração a outros deuses (animais e objetos) e ao próprio homem na usurpação da condição de Deus. 


É sabido  que o divino e o sagrado foram expressos através da arte. Deuses babilônicos, egípcios, fenícios e gregos, são representados em esculturas, adornos e composições de utensílios, monumentos, templos e complexos funerários. Em 2014, o Pastor Zach Neese, da Igreja Gateway  (Texas – EUA), proferiu palestra na Igreja Lagoinha de BH intitulada “Entretendo Demônios”. Ele afirma que toda a arte secular no mundo ocidental deve ser evitada pelo cristão, uma vez que ela tem origem na adoração aos Deus da Grécia e Roma. Mais adiante trataremos desse assunto.



Bronze de Artemísio, possivelmente Poseidon ou Zeus,
 c. 460 a.C., Museu Arqueológico Nacional de Atenas 


Cena de sacrifício do  Altar de Domício Enobarbo,
 século I a.C. Museu do Louvre


A história da arte, em sua visão científica estabelece os primeiros sinais da arte cristã após a morte e ressureição de Cristo no cristianismo primitivo. São registros gráficos de cruzes, peixes e siglas que serviam de representações de uma religião perseguida em seus primeiros anos. 





Num segundo momento, a arte cristã passa a expressar a evolução da aproximação do cristianismo ao Império Romano. Condição essa que a caracterizará até o final da Idade Média e expressará de certa forma, o auge, as crises, o declínio, o fim e o legado cultural romano no ocidente e no oriente. Seja em Roma, seja em Constantinopla. Seja na arte do Vaticano, seja na arte Bizantina, a arte cristã se mistura aos destinos do Império Romano e à reorganização da sociedade após o seu fim.

Com o final da Idade Média, o surgimento do Renascimento e depois com a Reforma e a Contra Reforma, a arte e o cristianismo entram numa fase decisiva para seus destinos, da mesma forma que ocorre com toda a sociedade ocidental, seus processos e fenômenos econômicos, políticos e sociais. A Reforma, principalmente as experiências conduzidas por Lutero e Calvino, é contemporânea e influenciadora das transformações que construíram a Modernidade.

Pensar a arte na perspectiva protestante também implica em fazer pontes dela com a história do cristianismo, com a história da arte e da própria sociedade até os dias de hoje.


3 – Como a arte se manifesta nessa perspectiva? Os Altares compreendidos em sua dimensão de arte e início de abordagem. 



Sacrifício de Isaac (por Abraão), pintado por Rembrandt, 1635
óleo sobre tela, 193 × 133 cm, Museu Ermitage.


Altar - Vem da palavra latina ‘altus’, e chamava-se assim por ser coisa construída em elevação, empregando-se para sacrifícios e outros oferecimentos. A significação mais usual da palavra hebraica e grega é ‘lugar de matança’. Duas outras palavras em hebraico (Ez 43.15), e uma em grego (At 17.23), traduzem-se pelo termo ‘altar’, mas pouca luz derramam sobre a significação da palavra. Depois da primeira referência (Gn 8.20), estão relacionados os altares com os patriarcas e com Moisés (Gn 12.7, 22.9, 35.1,1 – Êx 17.15, 24.4)



Sem querer contestar ou negar a história secular da arte, uma vez que esse não é nosso objetivo, pretendo me ater à perspectiva espiritual e bíblica do tema da arte cristã. 

Conforme afirmamos no início, atribuímos à criação em Gênesis a condição de um ato de arte do próprio Deus. Em seguida, apontamos a arte da antiguidade e do cristianismo primitivo como evidências extraídas da história da arte. Portanto, estabelecemos marcos temporais que envolvem elementos de fé e ciência para localizarmos o objeto da nossa análise. Entre esses marcos estão fatos bíblicos que desejamos convidar você a pensar sobre eles.

Ao considerarmos que a arte foi um ato do próprio Deus na criação do Universo e que a reencontramos posteriormente nas mãos do homem, podemos admitir que essa transferência (das mãos de Deus para as mãos do homem) esteja originalmente entre as consequências do gesto de Adão e Eva no paraíso.

Gosto muito de tomar como primeiras expressões artísticas humanas os altares que eram erguidos a Deus para sua adoração, (arte no sentido mais amplo de sua compreensão, que envolve, cores, luz, materiais, objetos, gestos, som, cheiros, intensões, fazeres e comunicação). Ao estabelecer essa condição artística dos altares, busco identificar o que Deus falava e orientava acerca desses elementos e quais as ações do homem.

Logo no início da existência humana, em seguida ao pecado de Adão e Eva, dois altares marcam a história dos homens. Os altares de Caim e Abel. Os altares possuem tanta importância para Deus que Ele próprio atribuiu valor aos dois altares dos irmãos. Deus olhou em primeiro lugar o que moveu o coração deles, mas o fez olhando através dos altares que haviam sido feitos. Ou seja, as “obras” expressaram o que estava no coração de Abel e Caim. Mesmo que Deus não precisasse focalizar em algo concreto, uma vez que o Ele sabe de todas as coisas, o meio e a forma serviram para definir e explicar a decisão de Deus. 

E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta.
Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.

Gênesis 4:3-8


Num outro momento importante da história do relacionamento de Deus com o Homem, Noé, após o Dilúvio, ergue um altar ao Senhor que se agrada da oferta e desse ato surge a aliança que tem como marca o arco-íris – uma das mais extraordinárias manifestações das cores e que surgem no céu sem nenhuma intervenção do homem, ou suporte concreto.

Depois Noé construiu um altar dedicado ao Senhor e, tomando alguns animais e aves puros, ofereceu-os como holocausto, queimando-os sobre o altar.


Em seguida, com Abraão, encontramos altares decisivos na história. O mais fantástico de todos é o que teria como sacrifício o próprio filho de Abraão. Justamente o que não houve em razão de Deus ter reconhecido o coração fiel de Abraão. Esse episódio guarda relação com o sacrifício de Jesus na cruz, quando Deus entregou seu próprio Filho em amor por nós.

Respondeu Abraão: "Deus mesmo há de prover o cordeiro para o holocausto, meu filho". E os dois continuaram a caminhar juntos.
Quando chegaram ao lugar que Deus lhe havia indicado, Abraão construiu um altar e so­bre ele arrumou a lenha. Amarrou seu filho Isa­que e o colocou sobre o altar, em cima da lenha. Então estendeu a mão e pegou a faca para sacrificar seu filho. Mas o Anjo do Senhor o chamou do céu: "Abraão! Abraão!" Eis-me aqui", respondeu ele." Não toque no rapaz", disse o Anjo. "Não lhe faça nada. Agora sei que você teme a Deus, porque não me negou seu filho, o seu único filho. "Abraão ergueu os olhos e viu um carnei­ro preso pelos chifres num arbusto. Foi lá pegá-lo, e o sacrificou como holocausto em lugar de seu filho. Abraão deu àquele lugar o nome de "O ­Senhor Proverá". Por isso até hoje se diz: "No monte do Senhor se proverá".


Perceba mais uma vez o quanto o altar é importante para Deus. São vários os relatos bíblico de altares. No entanto, a natureza do homem afastado de Deus deixou entrar no altar elementos estranhos ao coração do Senhor e passamos a ver o próprio povo de Deus adorando a outros deuses, ou colocando ídolos estranhos no altar que deveria ser exclusivamente para o Senhor.

O exemplo maior disso é que, enquanto esteve cativo no Egito, o povo de Deus acabou deixando-se seduzir pelas práticas egípcias de adoração aos seus deuses. Com imagens, rituais e objetos estranhos a Deus.

Após liberar o seu povo do Faraó, Deus estabeleceu com Moisés uma aliança que estipulou as leis a serem obedecidas pelo povo eleito por Ele. E neste momento, Deus ditou todas as normas para sua adoração, sem deixar de fora todos os aspectos de formas, cor, objetos, dimensões e ainda dotou de capacidade e talento homens para esse serviço, a quem considero claramente os dois primeiros Artistas do Senhor: Bezalel e Aoliabe (a passagem bíblica que registra essa unção dá nome a esse projeto. Êxodo 31). Entendo esse processo, como a expressão do Senhor em reestabelecer o seu altar passando a considerar o talento humano. No entanto, Ele aponta os limites do lugar da fé e o da arte.

É lindo perceber que Deus instrui e capacita seu povo para construir o altar, mas deixa claro que proíbe qualquer adoração a tais objetos e forma. Deus preocupa-se na verdade com a adoração e com o plano de salvação do homem.  Mas porque então ele teria dado ao homem a capacidade de construir tais coisas com tamanha habilidade e riqueza de detalhes? Por que Deus se preocuparia com o suporte e o adorno da Adoração se o objetivo do Altar era o coração do homem e o sacrifício a Ele ser oferecido?

Eu creio que em sendo conhecedor de todas as coisas, Deus já sabia que o Inimigo atuava justamente nessa brecha e Ele precisaria dotar o seu povo das habilidades para travar a guerra espiritual em torno da arte. Deus dá as leis a Moisés e ao mesmo tempo já o alerta que o povo estava praticando idolatria num altar com um bezerro de ouro. Moisés vai ao encontro do povo, tendo obtido o perdão de Deus para os que se arrependessem do pecado da idolatria e com todas as instruções para a realização da adoração da maneira certa.

Moisés destruiu o Touro, ordenou que o Povo se arrependesse, separou os que não obedeceram e se arrependeram, voltou ao Senhor e pediu mais uma vez misericórdia a Ele. A aliança foi renovada e só então o curso da história foi retomado. Em seguida, a Tenda do Encontro e Arca do Senhor foram construídas de acordo com todas as orientações de Deus e pelos artistas capacitados por Ele.

Veja em seguida os principais registros bíblicos dessa história:

Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas guas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.


Então disse o Senhor a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: Vós tendes visto que, dos céus, eu falei convosco. Não fareis outros deuses comigo; deuses de prata ou Deuses de ouro não fareis para vós. Um altar de terra me farás, e sobre ele sacrificarás os teus holocaustos, e as tuas ofertas pacíficas, as tuas ovelhas, e as tuas vacas; em todo o lugar, onde eu fizer celebrar a memória do meu nome, virei a ti e te abençoarei.
E se me fizeres um altar de pedras, não o farás de pedras lavradas; se sobre ele levantares o teu buril, profaná-lo-ás. Também não subirás ao meu altar por degraus, para que a tua nudez não seja descoberta diante deles.


Depois falou o SENHOR a Moisés, dizendo: Eis que eu tenho chamado por nome a Bezalel, o filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, E o enchi do Espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência, em todo o lavor, Para elaborar projetos, e trabalhar em ouro, em prata, e em cobre, E em lapidar pedras para engastar, e em entalhes de madeira, para trabalhar em todo o lavor. E eis que eu tenho posto com ele a Aoliabe, o filho de Aisamaque, da tribo de Dã, e tenho dado sabedoria ao coração de todos aqueles que são hábeis, para que façam tudo o que te tenho ordenado.


Mas vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão, e disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a este Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu.
E Arão lhes disse: Arrancai os pendentes de ouro, que estão nas orelhas de vossas mulheres, e de vossos filhos, e de vossas filhas, e trazei-mos. Então todo o povo arrancou os pendentes de ouro, que estavam nas suas orelhas, e os trouxeram a Arão. E ele os tomou das suas mãos, e trabalhou o ouro com um buril, e fez dele um bezerro de fundição. Então disseram: Este é teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito. E Arão, vendo isto, edificou um altar diante dele; e apregoou Arão, e disse: Amanhã será festa ao Senhor.



Então disse o Senhor a Moisés: Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste subir do Egito,e tem corrompido, E depressa se tem desviado do caminho que eu lhe tinha ordenado; eles fizeram para si um bezerro de fundição, e perante ele se inclinaram, e ofereceram-lhe sacrifícios, e disseram: Este é o teu deus, ó Israel, que te tirou da terra do Egito.
Disse mais o Senhor a Moisés: Tenho visto a este povo, e eis que é povo de dura cerviz.
Agora, pois, deixa-me, para que o meu furor se acenda contra ele, e o consuma; e eu farei de ti uma grande nação. Moisés, porém, suplicou ao Senhor seu Deus e disse: Ó Senhor, por que se acende o teu furor contra o teu povo, que tiraste da terra do Egito com grande força e com forte mão? Por que hão de falar os egípcios, dizendo: Para mal os tirou, para matá-los nos montes, e para destruí-los da face da terra? Torna-te do furor da tua ira, e arrepende-te deste mal contra o teu povo. Lembra-te de Abraão, de Isaque, e de Israel, os teus servos, aos quais por ti mesmo tens jurado, e lhes disseste: Multiplicarei a vossa descendência como as estrelas dos céus, e darei à vossa descendência toda esta terra, de que tenho falado, para que a possuam por herança eternamente. Então o Senhor arrependeu-se do mal que dissera que havia de fazer ao seu povo. E virou-se Moisés e desceu do monte com as duas tábuas do testemunho na mão, tábuas escritas de ambos os lados; de um e de outro lado estavam escritas.


E aconteceu que no dia seguinte Moisés disse ao povo: Vós cometestes grande pecado. Agora, porém, subirei ao Senhor; porventura farei propiciação por vosso pecado.
Assim tornou-se Moisés ao Senhor, e disse: Ora, este povo cometeu grande pecado fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito. Então disse o Senhor a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro. Vai, pois, agora, conduze este povo para onde te tenho dito; eis que o meu anjo irá adiante de ti; porém no dia da minha visitação visitarei neles o seu pecado. Assim feriu o Senhor o povo, por ter sido feito o bezerro que Arão tinha formado.

Êxodo 32:30-35






Faço essa abordagem acerca dos primeiros altares do Velho Testamento por entender que a manifestação da preocupação de Deus com a arte tem início dessa maneira e Ele  nos indica o caminho da arte inicialmente .

É preciso reforçar que em nenhum momento Deus coloca elementos naturais, ou feitos pelo homem no centro, ou na finalidade da adoração. Deus se interessa na adoração, no coração do homem e no sobrenatural que mora nessa relação que é espiritual. Mas em momento algum há condenação à arte produzida pelo homem que o adora.

Entendo a arte entranhada nos movimentos que o Espírito Santo de Deus faz em nossa alma e se manifesta através do nosso corpo e do que fazemos. Quanto mais do espírito do Deus, mas a nossa arte refletirá essa condição.

O conceito previsto no tempo da Lei é reafirmado e ampliado pelo próprio Jesus no Sermão da Montanha.


28 “Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. 29 Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. 30 Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé? 31 Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer?’ ou ‘Que vamos beber?’ ou ‘Que vamos vestir?’ 32 Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. 33 Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. 34 Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal.

Mateus 6: 28-34



3 – Depois da Arca do Senhor e da Tenda do Encontro, por aonde fluiu a arte?  


Depois de Moisés, vemos na construção do Templo de Salomão, a mesma preocupação com o ambiente de adoração e dentro da mesma concepção de foco no sobrenatural, sem deixar de lado o melhor que podia ser oferecido a Deus.

13 O rei Salomão enviara mensageiros a Tiro e trouxera Hurão[c]14 filho de uma viúva da tribo de Naftali e de um cidadão de Tiro, artífice em bronze. Hurão era extremamente hábil e experiente, e sabia fazer todo tipo de trabalho em bronze. Apresentou-se ao rei Salomão e fez depois todo o trabalho que lhe foi designado.

I Reis 7: 14

Evidentemente não havia naquela época a compreensão da arte da forma como a conhecemos atualmente. É importante ressaltar que o conceito do que seja arte é algo muito variável ao longo do tempo, bem como o conceito de artista e sua maneira de se relacionar com a arte e essa é uma discussão imensa e não cabe a esse artigo abordar o tema de forma mais ampla.  Interessa-nos apenas a foco naqueles que produziram arte com temas cristãos.

Conforme já mencionado, a história da arte faz menção aos achados arqueológicos de sinais dos cristãos perseguidos e depois da arte do cristianismo romano e bizantino. No Românico, na arte Bizantina e no Gótico, antes da Reforma, portanto, a arte religiosa cristã ganhou outra dimensão e passou a ocupar o lugar de Deus na adoração. Elementos simbólicos dos deuses Romanos foram misturados à fé cristã. Ritos, conceitos, elementos e imagens foram sendo gradativamente introduzidos no altar e nos espaços da fé. Essa condição estava em vigor na Igreja que Lutero e Calvino enfrentaram.  


O momento posterior à Reforma apresenta a iconoclastia como parte da resposta reformadora e, do outro lado, conceitos da Contra Reforma com o Barroco.
As diferentes vertentes da Reforma trataram de maneiras distintas a relação com a pintura e a escultura dentro dos templos. Essa discussão perdura até hoje. Há igrejas que permitem alguma presença de arte em seus templos e outras as proíbem integralmente.  Em nenhuma delas, em acordo com a palavra, tolera-se a adoração às imagens.

Esse truncado cenário, parece-nos ter sido determinante para o desenvolvimento da arte e misturou-se aos elementos trazidos pelo Renascimento. O Sec. XVI foi decisivo para a arte.

Eu considero que a Reforma tenha contribuído sobremaneira para a história da arte em razão do seu espírito libertador e valorizador do conhecimento tanto da palavra, quanto dos processos sociais. Além disso, na medida em que os artistas protestantes não mais recebiam encomendas de quadros e altares das Igrejas Reformadas, foram direcionando sua produção para pintura de paisagem, natureza morta, retrato e quando chamados a reproduzir cenas bíblicas, estas obedeciam à estética completamente diferente, por exemplo, do Barroco Italiano e Espanhol. Ao mesmo tempo, a clientela dos artistas holandeses e alemãs passou a ser principalmente os burgueses emergentes.

Esses fatos que tem no Renascimento o seu início são decisivos para a arte na modernidade.  

Mas o que vemos hoje no meio Protestante?

Primeiramente, lembremo-nos que a arte abrange questões que vão além dos temas relacionados à religião. Há várias formas de arte e obras de artistas de todo o mundo, da antiguidade até os dias de hoje.

A arte é uma produção humana, assim como qualquer outra. Um engenheiro constrói tanto templos, quanto prédios comerciais. Arquitetos projetam Igrejas, mas também teatros, escolas e etc. Temos músicos seculares e cristãos. Deus se interessa por todos os homens e mulheres, independente da habilidade que possuam. O que Ele não tolera é  que algo seja feito para ser adorado, ou que tome o Seu lugar na adoração.

A partir do Avivamento da Igreja na Rua Azuza, no início do Sec. XX, a adoração e o louvor foram transformados. Penso que com isso, o entendimento da arte no meio da Igreja de Cristo deva ser ajustado. No caso dos louvores, cuja a presença é muito mais perceptível, desde os Salmos, e Louvores de Davi e nos coros de todas as Igrejas, essa mudança foi mais visível, com novas formas, ritmos, letras e harmonias. Mas no caso das artes visuais, isso tem sido sempre mais complicado.

A Igreja na Europa no Sec. XIX havia racionalizado seu culto e talvez não tenha sido capaz de perceber que Deus, em momento algum condenou o fazer artístico e parece ter se esquecido de Bezalel, Aoliabe e Hurão. O problema não era ser artista. O problema era ser artista para desagradar a Deus.

A partir da segunda metade do Sec. XX, estudiosos protestantes ocuparam-se desse tema. Francis Schaeffer defende que o Cristão deve produzir e consumir arte como algo belo para Glória de Deus. Hans Rookmaaker foi além e dizia que o Cristão simplesmente deveria se envolver com arte que, segundo ele, não precisa de justificativa para existir.

Esses dois autores são os que mais influenciam as abordagens cristãs sobre a arte e são leituras obrigatórias para crentes artistas, ou que simplesmente sejam interessados em arte.

Considero, entretanto, que estamos num novo momento da humanidade e da nossa fé. Tenho percebido um mover do Espírito Santo nas Igrejas nesse tema. Ao mesmo tempo, tem havido muito ruído em torno da relação do cristão com a arte e, paradoxalmente, ao mesmo tempo em que Deus tem levantado artistas em nosso meio, tem existido na Cultura um clima de muita beligerância entre os crentes e o ambiente secular da arte.  É certo que muita coisa produzida por artistas seculares não agradam aos nossos olhos e muito menos a Deus. Mas isso é um amplo fenômeno dos nossos dias, EM TODAS AS ÁREAS E NÃO APENAS NA ARTE, onde a sensibilidade dos artistas antecipe, amplie e instigue as emoções.

Os dias são de muita luta espiritual e sempre que ela se acirra, a arte reflete esse processo. Mas perceba, que sempre quando isso ocorre, Deus se levanta e uma nova página é escrita. Foi assim no Jardim do Édem, com Abraão, com Noé, Moisés e Jesus. Sempre com amor.

Penso que seja o momento dos artistas protestantes afinarem seus olhos e ouvidos para perceberem o que Deus tem falado a cada um de vocês. É preciso produzir e deixar fluir sua criatividade de maneira a permitir que a sua arte encontre o homem que precisa e procura a Deus. O que Deus plantou no seu coração e se traduz em tela de arte, escultura ou  instalação precisa encontrar outras vidas. É para isso que você existe. Sinta-se encorajado e estimulado pelo Espírito Santo a fazer arte.
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É preciso buscar a Deus e a santificação. Não para fazer arte, mas para que ao fazê-la, você esteja próximo a Deus. Encha seu coração do Espírito Santo e ame!!! Sua arte encontrará o destino que Deus quer. Pois é dele o plano perfeito e agradável para sua vida e para sua arte.

Busque aprimorar sua técnica. Busque fazer o melhor. Entenda a história da arte, clame a Deus por sabedoria, entendimento e inspiração. Veja o artista não cristão, antes de tudo, como pessoa criada por Deus e a quem você pode falar de Jesus. Seja empático, generoso e o ame. Você não precisa amar a obra dele, mas a perceba como potencial da evidência do testemunho da vida dele transformadora pela graça de Deus. Isso pode ocorrer de imediato ou muito tempo depois. E aqui trago uma contribuição do Cantor , Compositor, Músico, Ministro de adoração e da Palavra, Coach Vocal e Idealizador do Projeto Despertados (Ensino na área de Oração e adoração), André Leono,  ao trazer-me  as palavras de Paulo aos Éfesios, para que tenhamos os limites  nessas relações com a arte secular:

Não participem das obras infrutíferas das trevas; antes, exponham-nas à luz. (Efésios 11: 5)  

Portanto, peça ao Senho para lhe dar dabedoria sobre onde expor, com quem interagir, com quem fazer parcerias, onde buscar inspiração e referências. Nunca se esqueça que suas maiores referênicas são a Palavra e o Reino.


Além de polemizar em amor o conceito da arte, seu conteúdo, ou estética, brigue pelo artista que no meio de suas angústias e desertos existenciais grita por Jesus e não é entendido. Você, artista cristão, faça da sua vida e da vida do outro um esboço da obra de arte que Jesus tem para vocês. A arte de cada artista vai contar essa história e a humanidade poderá ver isso através de vocês. Há um novo avivamento em curso e a arte é enredo dessa história.

Quando encontrar um jovem artista na igreja, estimule sua vocação. Mesmo as obras mais estranhas sempre possuem sua mensagem e seu público. Ajude a fazer com que ela cumpra sua missão. A vontade de Deus se encarregará do destino. Ao encontrar esse artista dentro de você, no seu coração e na sua alma, abra espaço para o Espírito Santo de Deus. Que a sua produção seja evidência da Graça dEle e do batismo do Espírito Santo na sua vida.

Quanto ao que produzir, eu acredito que estando em sintonia com Deus, você encontrará o caminho. Você poderá realizar temas bíblicos, ou não. Poderá servir ao processo do Ide, ou não. Obras que dialoguem em amor com artistas seculares. Releituras, arte profética, escultura, instalações, performance, arte abstrata, figurativa, digital, etc. Você, inclusive, poderá desenvolver novas linguagens e  formatos. E pode ser uma artista cristão e que realize suas obras sem nenhuma relação com elementos da religião. Isso faz parte do processo criativo de todo artista e no seu caso, envolve sua relação com Deus. Mas, eu creio que seja qual for a expressão da sua arte, ela trará paz ao seu coração. 

O Pastor Zach Neese disse em sua conferência na Igreja Lagoinha de BH que a arte que consumimos no cinema, no teatro, TV, Internet e museus tem origem na adoração aos deuses pagãos. Isso é verdade, mas Deus colocou sobre nós a possibilidade de agir nessa área. Nós estamos aqui para falar do amor Dele e sermos provas vivas da sua graça nessa área.

No antigo testamento, o altar possuía um cordeiro a ser sacrificado. Jesus nos livrou de toda culpa e se fez em cordeiro por nós. Agora, o altar está em nós, está em todo lugar que haja expressão da santidade que buscamos. O autor da vida, nos chama a pintar uma nova história. Aos que falam, que falem, aos que cantam, que cantem, aos que fazem arte, que o façam para Honra, Glória e evidência do Poder e Graça de Deus. O altar não tem mais cordeiro. Ele se deu em amor na cruz. Amemos, pois. Isso lhe ajudará a refletir e responder ao tema desse texto: Sou cristão e sou artista. O que devo fazer?

1 Coríntios 13 

A suprema excelência do amor

13 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas, havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos. 10 Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado. 11 Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. 12 Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face; agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou conhecido. 13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.

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